Não é de hoje que a metáfora da figura do maestro no pódio regendo a orquestra com a do líder comandando sua equipe, continua viva no imaginário de muitos gestores e servindo de inspiração para as organizações, estudiosos, palestrantes e treinadores de equipes.

Começo este artigo esclarecendo alguns conceitos sobre a palavra regência. Na gramática, significa a relação de complementação entre os termos da oração. Uma vez que as palavras são interdependentes, é graças à regência que somos capazes de construir os sentidos da mensagem.

Na música, regência é a arte pela qual o maestro conduz uma orquestra por meio de gestos e expressões, transmitindo aos músicos valores e índices que compõem uma obra musical, como andamento, ritmo e estruturas.

LIDERAR COMO UM ÓTIMO MAESTRO

O que me fez pensar nesta analogia é o momento em que as organizações vivem. A busca de verdadeiros maestros que precisam estar à frente de suas equipes com postura, segurança e controle, transmitindo energia e comprometidos com o resultado.

Peter Drucker, em 1988, publicou um artigo na Harvard Business comparando as empresas com as orquestras. O que me chama a atenção neste artigo é que Drucker afirma que as etapas entre a afinação dos instrumentos e o gestual do maestro contêm boas práticas nas quais organizações de todo tipo podem se espelhar. “Uma orquestra não tem uma segunda chance”.

O maestro sabe perfeitamente o espaço e o momento de cada um atuar. Exige conhecimento e técnica. Sabe comunicar muito bem o que a partitura representa. Com a batuta na mão direita, define o compasso e a velocidade e a mão esquerda o sentimento que a música deve mostrar.

Acredito que, hoje, o líder segura em uma mão a batuta da tecnologia e define a velocidade da digitalização e, na outra, a harmonia da equipe, indicando o melhor caminho baseado em um plano de negócios, representado pela partitura, como um mapa organizado, na tentativa de garantir uma sequência de passos para a continuidade do negócio e dos objetivos de quem compôs a música.

Não podemos negar que, nas empresas, razão e emoção andam juntas e nenhum líder pode ignorar este fato e o mais indicado a fazer é extrair o melhor desta combinação.

Mas, um gesto em falso e a orquestra pode se desconcentrar. Muitos gestos com pouca informação causam desinteresse e cada músico irá preferir tocar por conta própria. Um erro e a harmonia da melodia causará um impacto negativo na sintonia da equipe. Um líder despreparado para comunicar-se com sua equipe equivale a um maestro inapto para reger uma orquestra sinfônica.

LIDERAR COM PARCEIROS E NÃO COM INSTRUMENTOS

O que o líder de hoje precisa entender é que seu papel é fundamental e seu maior investimento se dá nos ensaios, ou seja, no dia a dia, na capacidade de conhecer e treinar seus colaboradores, de ter a sensibilidade de percebê-los em sua totalidade. Enxergar o potencial de cada um e incentivá-los a extrair as melhores notas para que possam atingir a máxima performance e entregar ao público, o produto final, como se fosse o dia da apresentação, recheado de emoção e encantamento, que deve ser sentido e percebido pelo cliente e que direcionará sua equipe aos aplausos.

Assim como um maestro, um líder não faz algo sozinho. A regência surge como um caminho para a liderança que motiva, que engaja, que tem o controle e ao mesmo tempo fornece liberdade criativa. Muitas vezes, o maestro não sabe tocar todos os instrumentos, mas sabe escutar, interpretar, avaliar e, assim, desenvolver o senso de autonomia de cada músico, reforçando a confiança no trabalho colaborativo.

Como diz o regente israelense Italy Talgam, “a nova liderança deve entender que sua equipe é formada de parceiros e não instrumentos”. Neste contexto, é muito claro afirmar que a empatia se torna uma ferramenta poderosa para atingir resultados extraordinários, principalmente, quando os talentos são maximizados.

Se ele quiser, de fato, aprender com sua equipe, o bom líder deve estar preparado emocionalmente para lidar com seres humanos, na sua totalidade, equilibrando as competências com as intempéries do cotidiano, administrando egos e inseguranças e, por mais diversificado que sejam os sentimentos, ter o ímpeto de gerar uma energia contagiante de um verdadeiro maestro, estimulando o “flow” da orquestra, com cadência, ritmo e constância, para que no final, a platéia aplauda em pé e grite: Bravo! Bravo!

Texto escrito por: Luiz Aurélio Chamlian, sócio proprietário da Dinâmica, autor do livro “12 Cs do Ciclo do Sucesso”